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J. ROMÃO DA SILVA
( Brasil - Piauí )
Júlio Romão da Silva nasceu em 22 de maio de 1917 em Teresina, Piauí. Filho de Luís e Joana Querino da Silva, fez o primário na escola pública Demóstenes Avelino e se diplomou em marcenaria (1936) pela Escola dos Aprendizes Artífices. Ainda jovem, publicou suas primeiras produções literárias nos jornais Gazeta, de Teresina, e Combate, de São Luís-MA.
Em 1937, transferiu-se para o Rio de Janeiro e cursou o ginasial intensivo no Colégio Matos. Formou-se mais tarde pela Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, tornando-se um dos primeiros jornalistas brasileiros graduados em curso superior de Comunicação Social. Exerceu cargos e funções de destaque no IBGE e em outros setores da administração pública federal, municipal e estadual. Como jornalista, colaborou em vários órgãos da imprensa periódica e diária carioca, notadamente em O Malho, Vamos Ler, Revista da Semana, Dom Casmurro, Diário Carioca, Jornal do Comércio, de que foi revisor, e no Correio da Manhã, onde começou como revisor, em 1951, e trabalhou por um período de dez anos, destacando-se como repórter político e redator responsável pelo Suplemento Econômico.
Ativista na formação de organizações negras surgidas no Rio de Janeiro nas décadas de 1940 e 1950, foi um dos ideólogos do chamado Movimento da Negritude Brasileira, declarado em manifesto de 1945 pelo Comitê Democrático Afro-Brasileiro, de que fizeram parte o poeta Solano Trindade, os sociólogos Edison Carneiro e Guerreiro Ramos, o escritor Raymundo Sousa Dantas, e o teatrólogo Abdias Nascimento, entre outros. Participou também da criação do Teatro Experimental do Negro, do Teatro Popular Brasileiro e da Orquestra Afro-Brasileira.
Além de teatrólogo e poeta, o autor dedicou-se ao estudo e resgate de artistas e intelectuais afro-brasileiros como Aleijadinho, Teodoro Sampaio, Solano Trindade e Luiz Gama, entre outros. Este último foi aquinhoado com minuciosa pesquisa de vida e obra, que resultou em duas edições do volume Luiz Gama e suas poesias satíricas, obra em que apresenta alentado ensaio crítico a respeito do precursor da poesia negra brasileira, a que se segue a reprodução na íntegra das Trovas burlescas de Getulino, publicadas em 1859 e ignoradas por boa parte de nossa historiografia literária.
Por relevantes serviços prestados à cidade do Rio de Janeiro – entre eles os estudos Geonomásticos cariocas de procedência indígena e Denominações indígenas na toponímia carioca – foi distinguido com o título de Cidadão Carioca Honorário, ao qual se equiparia mais tarde o de Fluminense. Em 1967, a Assembleia Legislativa do então Estado da Guanabara aprovou por unanimidade projeto de lei dando o seu nome a um logradouro da cidade do Rio de Janeiro, no bairro do Méier.
Docente de Ciências Humanas e Sociais, versado em linguística e etnologia aborígene, e professor da disciplina no curso de Altos Estudos Amazônicos do Instituto Rondon e da ADESG, J. Romão publicou importantes trabalhos sobre o assunto, alguns inseridos em publicações cientificas do IBGE e similares do país e do exterior. Destas pesquisas destacam-se os opúsculos Os índios Bororos: família etnolinguística e Tupi: língua indígena natural do Brasil. Após se aposentar como funcionário do IBGE, o pesquisador da obra de Luiz Gama regressa a Teresina. Em sua cidade natal, dedica-se aos incessantes labores intelectuais, a que por vocação e especial predileção se dedicou desde a mocidade. Em 2006, candidatou-se a deputado estadual pelo PC do B.
Membro da Academia Piauiense de Letras, deixou dezenas de obras publicadas, algumas traduzidas e divulgadas fora do país. Recebeu da Academia Brasileira de Letras, os prêmios João Ribeiro e Cláudio de Sousa – este, pela publicação do livro José, o vidente: saga dramática de Israel. Foi ainda agraciado, em 2010, com o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Piauí, além de homenageado no II Congresso Internacional de História e Patrimônio Cultural que ocorreu em Teresina naquele mesmo ano.
Homem de teatro, com peças representadas no país e vertidas para o castelhano, incluem-se em sua bibliografia, além de uma comédia de fundo político, três autos-dramáticos inspirados em temas bíblicos, analisados por Alceu Amoroso Lima, em ensaio de 1974. De acordo com Elio Ferreira,
a saga de Júlio Romão da Silva se assemelha à dos mártires e grande benfeitores da humanidade. Marceneiro na infância e na adolescência. Negro e pobre, passou por inúmeras provações e constrangimentos. Mas não se deixou abater, seguiu em frente na busca do sonho de tornar-se doutor e um grande homem. (...) Não esqueceu o compromisso de homem negro, de origem humilde, comprometido com a condição humana de seus irmãos de cor e classe social, e ainda com o futuro político do país e da terra natal. (FERREIRA, 2012, p. 10).
O poeta e crítico piauiense assevera ainda que J. Romão “restabelece, portanto, a função do griot na diáspora negra, poeta e cantor da tradição africana e guardião da memória pessoal e coletiva, narrador da saga de pessoas ilustres da aldeia.” (idem, p. 9). O escritor faleceu aos 95 anos, no dia 09 de março de 2013, em Teresina-PI.
FERREIRA, Elio. Apresentação. In CAMPELO, Ací; FERREIRA, Elio (Orgs.). Júlio Romão da Silva, entre o formão, a pena e a flecha. Teresina: Editora UFPI, 2012.
PUBLICAÇÕES
Ficção
Mensagem do Salmo,1967. (Teatro); José, o vidente : saga dramática de Israel. Rio de Janeiro: MLG Ed, 1983. A mensagem do Teresina: Academia Piauiense de Letras, 1990.(Teatro)Primeiras trovas burlescas de Getulino. Rio de Janeiro: CEB,1954. (Organização e prefácio).
Não ficção
Geonomásticos cariocas de procedência indígena. Rio de Janeiro: Secretaria de Estado da Educação e Cultura,1961. Geonomásticos cariocas de procedência indígena. Rio de Janeiro: Liv. São José, 1962.Denominações indígenas na toponímia carioca. Rio de Janeiro: Brasiliana, 1966. Luís Gama e suas poesias satíricas. Brasília: INL, 1981. (organização e prefácio); Luiz Gama e suas Poesias Satíricas. 2 ed. ver. e aumentada. Rio de Janeiro: Cátedra,1981.
ANTOLOGIA DE SONETOS PIAUIENSES [por] Félix Aires. [Teresina: 1972.] 218 p. Impresso no Senado Federal Centro Gráfico, Brasília. Ex. bibl. Antonio Miranda
EXCERTO DE “O ESPERADO”
Sonhei a paz para o mundo
E mataram-me.
Ó sátrapas!
Ó víboras!
Ó abutres!
Ó vampiros!
Ó répteis!
Ó sacripantas!
Ó chacais!
Quanto deixareis o charco e a carniça?
Quando parareis s melodia do meu canto
E vereis a beleza do meu sonho?
Quando parareis de me matar,
Para entenderdes a mensagem do meu sonho!?
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Página publicada em março de 2023
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